quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


Resenha de’O Hobbit: Uma jornada inesperada’: o melhor filme da Terra-média desde ‘A sociedade do Anel’, de Erik Kain.



Crescendo eu li O Hobbit e O Senhor dos Anéis várias vezes, mas como adulto eu nunca reli o primeiro livro da Terra-média de Tolkien. A história de Bilbo Bolseiro nunca saiu da memória certamente, mas está mais esfumaçada do que os últimos livros.
Até certo ponto, fico feliz a respeito, mas também um pouco arrependido. Sabe, tendo lido todas as três partes de Senhor dos anéis mais recentemente, quando os filmes saíram, eu encontrei um monte de razões para reclamar. Algumas das minhas reclamações mais legítimas ficaram mais irritantes por causa disso, e o corte do expurgo do Condado e de Tom Bombadil me irritaram mais do que teriam irritado se eu não tivesse lido os livros em 15 anos.
Assisir a O Hobbit com um senso mais difuso das diferenças  entre livro e filme provavelmente me ajudou a gostar do filme mais do que eu teria gostado – e, de fato, eu gostei muito.
Mais duas coisas pra explicar antes de começar.
Primeiro, eu não assisti o filme em 3D e não assisti a versão de 48 quadros-por-segundo. Eu acho que eu sou um anti-tecnologia muito mau-humorado quando o assunto é cinema, mas eu prefiro em duas dimensões e confortáveis 24 quadros-por-segundo. Outros, como Sonny Bunch, acharam a experiência de mais quadros por segundo desconcertante. (tem um link pra esse artigo, mas eu não o traduzi.)
Segundo, eu não acho ruins mudanças na ficção desde que elas não diminuam o trabalho original. Eu acho que algumas mudanças na trilogia original foram danificantes, mas nenhuma das mudanças, (mesmo na cena dos trolls) fundamentalmente alterou o Hobbit de um jeito que impacte negativamente a história. Pelo contrário.

Uma aventura inesperada



Essa é a história de um hobbit num mundo superdimensionado, um bando de anões, e um dragão apavorante. É a história de uma aventura inesperada cheia de perigo, ganância e traição, de anéis mágicos e batalhas sangrentas.
Mas também é a história de um rei anão no exílio, e de um misterioso necromante, Sauron, há muito acreditado morto, forjando seu poder em segredo. É a história de eventos transpirando para uma guerra ainda maior – uma guerra já vista em Senhor dos Anéis.
Porque ele é todas essas histórias e porque cada uma existe no contexto mais amplo da mitologia do Um Anel,  Jackson cavocou os apêndices e adicionou muita coisa à sua adaptação. Suspeita-se de que ele vá adicionar ainda mais antes que os três filmes estejam terminados.

Diferenças entre o livro e o filme.

Essas adições amarram mais de perto a trilogia O Hobbit com O senhor dos anéis. Enquanto eu entendo como o contexto é importante para aqueles que nunca leram os livros, eu acho que também faz sentido para quem leu.
Em primeiro lugar, acho que se Tolkien tivesse escrito O Hobbit depois de SdA, como uma ‘prequência’, ele teria amarrado os livros mais de perto ,como Peter Jackson; e certamente sua obsessão com a Terra-média e a vasta mitologia que ele criou em volta dessas histórias é prova disso. Qualquer chance que Jackson tenha de adicionar pedaços de eventos que aconteceram  dentro da tradição do universo de tolkien, espero que ele agarre.
Personagens como Radagast tiveram aparições reais, ao invés de meras menções, e nós vemos em tempo real  o que está acontecendo na floresta das trevas,  a gradual deterioração e escuridão lá. Como é um filme, estou contente que tenham mostrado, ao invés de terem simplesmente contado. Me dê cenas ao invés de conversa.
Nós também vemos um novo antagonista, um Orc pálido que monta um Warg pálido.
Azog é fiel ao cânone, mas não é uma figura n’O Hobbit. Ele é apresentado com precisão no começo como o assassino do avô  de Thorin (embora o pai de Thorin, Thrain, não tenha diso morto por Azog, ele foi capturado por Sauron e morreu no cativeiro).
Entretanto, Azong foi morto pelo parente de Thorin, Dain, na batalha dos portões de Mori. Dain então preveniu os amões a não entrarem no reino perdido tendo visto  a ruína de Durin (o Balrog) lá dentro.
O Azog de Jackson ainda vive, e funciona como um veículo da caça n’O Hobbit:Uma jornada inesperada, procurando Thorin para de uma vez por todas por um fim à linhagem de Durin. O que o filme não disse é que essa batalha ocorreu  150 anos antes do filme.
Fiel ao cânone ou não,  fico feliz que todo esse novo material nos tenha sido dado.
Não só dá um contexto e traz toda a história  e pano de fundo do livro, também traz momentum a uma história que às vezes  precisa de força narrativa. A caçada entre Thorin e Azog  dá mais uma camada de drama, e o encontro do Conselho Branco nos dá um vislumbre de eventos importantes acontecendo atrás do véu.
Enquanto muitas mudanças me incomodaram na trilogia original de Jackson, largamente porque elas aconteceram à custa de material cortado, dessa vez a gente tem tanto continuidade com a Guerra do Anel quanto um quadro mais amplo do conflito do que se vê no livro.
Essa, e o fato de que Martin Freeman é um Bilbo excelente (e uma mudança benvinda do Elijah Wood)  são algumas das razões porque eu acho que O Hobbit:uma jornada inesperada é o melhor filme da Terra-média desde Sociedade do Anel.

Thorin Escudo de Carvalho



Uma outra razão de eu ter gostado tanto to filme é a ênfase em Thorin Escudo de Carvalho.
O Thorin da ficção de Tolkien não é o mesmo anão apresentado no filme de Jackson, mas eu estou honestamente mais interessado na figura mais complexa do herói que Jackson nos dá do que o thorin incompetente e ganancioso que tolkien criou, embora mesmo o Thorin de Tolkien encontre a redenção no final.
Thorin, interpretado por Richard Armitage, é uma mistura de aragorn e Boromir. Ele é o herdeiro orgulhoso, valente e admirado de um trono que já foi grande. Como Aragorn, , é ele que inspira os outros, cuja coragem e honra fazem dele um líder respeitado. Mas como Boromir, thorin é muito orgulhoso. “O orgulho vai ser sua ruína” Gandalf diz a ele, o que é verdade.
A ênfase em thorin é interessante, e alguns a descartaram como a saída hollywoodiana fácil de dar à audiência o herói de que ela precisa. Eu discordo. Eu gosto da idéia de Thorin como o herói trágico e imperfeito. No filme de Jackson ele despreza Bilbo, e é quase cruel com ele. Ele é altivo e impaciente, ao invés de mesquinho e grosso. Mas ele também é corajoso e admirável, alguém de quem você quer gostar e cujos humores mais sombrios chegam como uma surpresa. Eu acho que suas decisões finais mais tarde serão ainda mais irritantes por causa disso, e seu personagem mais interessante.


OK, mas a gente precisa mesmo de três filmes d’O Hobbit?

A resposta curta: Sim. E agora pra resposta comprida...
Graças a todo o conteúdo somado e ao fato de que ele tem orçamento, Hackson mudou o planejado filme em duas partes em uma trilogia. Eu estava convencido no início de que era uma jogada pra ganhar dinheiro, mas não estou tão seguro agora.
Primeiro, é dada à história bastante espaço pra esparramar suas gigantes asas de águia.
Não há cortes chocantes, e cenas de ação estendidas podem coexistir com cenas adicionais como o encontro do Conselho Branco ou Radagast explorando uma Floresta das Trevas em decomposição (ou Floresta Verde antes de sua mudança pra pior).
O filme tem muitos momentos magníficos, e eu nunca senti que ele se arrastou ou ficou atolado.  Antes, dessa vez eu senti que estava tendo uma visão mais completa da tradição tolkieniana, eu queria permanecer em muitas das tomadas, e não teria me importado com outra meia hora ou mais de metragem.
A segunda razão porque esse livro precisa de uma trilogia é que uma trilogia espelha melhor o arco narrativo do livro. É basicamente uma história em três atos clássica, afinal.
O primeiro filme é grosseiramente falando, o primeiro Ato do livro – a jornada aos limites da Floresta das Trevas, com o bando de heróis seguramente depositado pelas águias às vistas da Montanha Solitária. Valfenda, Gollum, os trolls e o Grão-Orc todos fazendo uma aparição. É uma estrutra muito parecida com A Sociedade do Anel.
Ato dois trará nosso bando de heróis através da Floresta das Trevas infestada de aranhas, leva-los ao conflito com os Elfos da Floresta, e finalmente leva-los à montanha, Valle e ao confronto com Smaug. Esse também, lembra (embora menos) a estrutura de As duas Torres com seu conflito entre os heróis e um vilão secundário (Saruman).
Finalmente, o Ato três será a batalha dos cinco exércitos , com, presume-se, Azog (não seu filho Bolg dos livros), como o antagonista principal mais uma vez e então o epílogo no qual, espera-se, contra toda a razão, não será tão triste como o epílogo do último filme (O retorno do Rei).
Ambos os Atos dois e três serão intercalados com material adicional relacionado ao necromante e a investigação de Gandalf do seu esconderijo fortaleza e talvez algumas dicas da traição de Saruman. Em outras palavras, há muito conteúdo a explorar somado ao arco narrativo principal colocado no livro.
Eu gostei d’O Hobbit: uma jornada inesperada mais do que eu achei que gostaria. Talvez as minhas expectativas estivessem baixas, mas eu acho que não. Eu acho que Jackson levou a tradição e as histórias mais a sério dessa vez, e enquanto algumas mudanças simplesmente fizeram o filme mais dramático, muitas delas o fizeram mais rico. A liberdade artística usada aqui realmente funciona, e eu estou agradavelmente surpreendido.

Ser um nerd da Tera-média não era tão divertido faz tempo.