Resenha de’O Hobbit:
Uma jornada inesperada’: o melhor filme da Terra-média desde ‘A sociedade do
Anel’, de Erik Kain.
Crescendo eu li O
Hobbit e O Senhor dos Anéis
várias vezes, mas como adulto eu nunca reli o primeiro livro da Terra-média de
Tolkien. A história de Bilbo Bolseiro nunca saiu da memória certamente, mas
está mais esfumaçada do que os últimos livros.
Até certo ponto, fico feliz a respeito, mas também um pouco
arrependido. Sabe, tendo lido todas as três partes de Senhor dos anéis mais recentemente, quando os filmes saíram, eu
encontrei um monte de razões para reclamar. Algumas das minhas reclamações mais
legítimas ficaram mais irritantes por causa disso, e o corte do expurgo do
Condado e de Tom Bombadil me irritaram mais do que teriam irritado se eu não
tivesse lido os livros em 15 anos.
Assisir a O Hobbit
com um senso mais difuso das diferenças
entre livro e filme provavelmente me ajudou a gostar do filme mais do
que eu teria gostado – e, de fato, eu gostei muito.
Mais duas coisas pra explicar antes de começar.
Primeiro, eu não assisti o filme em 3D e não assisti a
versão de 48 quadros-por-segundo. Eu acho que eu sou um anti-tecnologia muito
mau-humorado quando o assunto é cinema, mas eu prefiro em duas dimensões e
confortáveis 24 quadros-por-segundo. Outros, como Sonny Bunch, acharam a
experiência de mais quadros por segundo desconcertante. (tem um link pra esse
artigo, mas eu não o traduzi.)
Segundo, eu não acho ruins mudanças na ficção desde que elas
não diminuam o trabalho original. Eu acho que algumas mudanças na trilogia
original foram danificantes, mas nenhuma das mudanças, (mesmo na cena dos
trolls) fundamentalmente alterou o Hobbit de um jeito que impacte negativamente
a história. Pelo contrário.
Uma aventura
inesperada
Essa é a história de um hobbit num mundo superdimensionado,
um bando de anões, e um dragão apavorante. É a história de uma aventura
inesperada cheia de perigo, ganância e traição, de anéis mágicos e batalhas
sangrentas.
Mas também é a história de um rei anão no exílio, e de um
misterioso necromante, Sauron, há muito acreditado morto, forjando seu poder em
segredo. É a história de eventos transpirando para uma guerra ainda maior – uma
guerra já vista em Senhor dos Anéis.
Porque ele é todas essas histórias e porque cada uma existe
no contexto mais amplo da mitologia do Um Anel,
Jackson cavocou os apêndices e adicionou muita coisa à sua adaptação.
Suspeita-se de que ele vá adicionar ainda mais antes que os três filmes estejam
terminados.
Diferenças entre o
livro e o filme.
Essas adições amarram mais de perto a trilogia O Hobbit com O senhor dos anéis. Enquanto eu entendo como o contexto é
importante para aqueles que nunca leram os livros, eu acho que também faz
sentido para quem leu.
Em primeiro lugar, acho que se Tolkien tivesse escrito O Hobbit depois de SdA, como uma ‘prequência’, ele teria amarrado os livros mais de
perto ,como Peter Jackson; e certamente sua obsessão com a Terra-média e a
vasta mitologia que ele criou em volta dessas histórias é prova disso. Qualquer
chance que Jackson tenha de adicionar pedaços de eventos que aconteceram dentro da tradição do universo de tolkien,
espero que ele agarre.
Personagens como Radagast tiveram aparições reais, ao invés
de meras menções, e nós vemos em tempo real
o que está acontecendo na floresta das trevas, a gradual deterioração e escuridão lá. Como é
um filme, estou contente que tenham mostrado,
ao invés de terem simplesmente contado.
Me dê cenas ao invés de conversa.
Nós também vemos um novo antagonista, um Orc pálido que monta
um Warg pálido.
Azog é fiel ao cânone, mas não é uma figura n’O Hobbit. Ele é apresentado com precisão
no começo como o assassino do avô de
Thorin (embora o pai de Thorin, Thrain, não tenha diso morto por Azog, ele foi
capturado por Sauron e morreu no cativeiro).
Entretanto, Azong foi morto pelo parente de Thorin, Dain, na
batalha dos portões de Mori. Dain então preveniu os amões a não entrarem no
reino perdido tendo visto a ruína de
Durin (o Balrog) lá dentro.
O Azog de Jackson ainda vive, e funciona como um veículo da
caça n’O Hobbit:Uma jornada inesperada,
procurando Thorin para de uma vez por todas por um fim à linhagem de Durin. O
que o filme não disse é que essa batalha ocorreu 150 anos antes do filme.
Fiel ao cânone ou não,
fico feliz que todo esse novo material nos tenha sido dado.
Não só dá um contexto e traz toda a história e pano de fundo do livro, também traz
momentum a uma história que às vezes
precisa de força narrativa. A caçada entre Thorin e Azog dá mais uma camada de drama, e o encontro do
Conselho Branco nos dá um vislumbre de eventos importantes acontecendo atrás do
véu.
Enquanto muitas mudanças me incomodaram na trilogia original
de Jackson, largamente porque elas aconteceram à custa de material cortado,
dessa vez a gente tem tanto continuidade com a Guerra do Anel quanto um quadro
mais amplo do conflito do que se vê no livro.
Essa, e o fato de que Martin Freeman é um Bilbo excelente (e
uma mudança benvinda do Elijah Wood) são
algumas das razões porque eu acho que O
Hobbit:uma jornada inesperada é o melhor filme da Terra-média desde Sociedade do Anel.
Thorin Escudo de
Carvalho
Uma outra razão de eu ter gostado tanto to filme é a ênfase
em Thorin Escudo de Carvalho.
O Thorin da ficção de Tolkien não é o mesmo anão apresentado
no filme de Jackson, mas eu estou honestamente mais interessado na figura mais
complexa do herói que Jackson nos dá do que o thorin incompetente e ganancioso
que tolkien criou, embora mesmo o Thorin de Tolkien encontre a redenção no
final.
Thorin, interpretado por Richard Armitage, é uma mistura de
aragorn e Boromir. Ele é o herdeiro orgulhoso, valente e admirado de um trono
que já foi grande. Como Aragorn, , é ele que inspira os outros, cuja coragem e
honra fazem dele um líder respeitado. Mas como Boromir, thorin é muito
orgulhoso. “O orgulho vai ser sua ruína” Gandalf diz a ele, o que é verdade.
A ênfase em thorin é interessante, e alguns a descartaram
como a saída hollywoodiana fácil de dar à audiência o herói de que ela precisa.
Eu discordo. Eu gosto da idéia de Thorin como o herói trágico e imperfeito. No
filme de Jackson ele despreza Bilbo, e é quase cruel com ele. Ele é altivo e
impaciente, ao invés de mesquinho e grosso. Mas ele também é corajoso e
admirável, alguém de quem você quer gostar e cujos humores mais sombrios chegam
como uma surpresa. Eu acho que suas decisões finais mais tarde serão ainda mais
irritantes por causa disso, e seu personagem mais interessante.
OK, mas a gente
precisa mesmo de três filmes d’O Hobbit?
A resposta curta: Sim. E agora pra resposta comprida...
Graças a todo o conteúdo somado e ao fato de que ele tem
orçamento, Hackson mudou o planejado filme em duas partes em uma trilogia. Eu
estava convencido no início de que era uma jogada pra ganhar dinheiro, mas não
estou tão seguro agora.
Primeiro, é dada à história bastante espaço pra esparramar
suas gigantes asas de águia.
Não há cortes chocantes, e cenas de ação estendidas podem
coexistir com cenas adicionais como o encontro do Conselho Branco ou Radagast
explorando uma Floresta das Trevas em decomposição (ou Floresta Verde antes de
sua mudança pra pior).
O filme tem muitos momentos magníficos, e eu nunca senti que
ele se arrastou ou ficou atolado. Antes,
dessa vez eu senti que estava tendo uma visão mais completa da tradição
tolkieniana, eu queria permanecer em muitas das tomadas, e não teria me
importado com outra meia hora ou mais de metragem.
A segunda razão porque esse livro precisa de uma trilogia é
que uma trilogia espelha melhor o arco narrativo do livro. É basicamente uma
história em três atos clássica, afinal.
O primeiro filme é grosseiramente falando, o primeiro Ato do
livro – a jornada aos limites da Floresta das Trevas, com o bando de heróis
seguramente depositado pelas águias às vistas da Montanha Solitária. Valfenda,
Gollum, os trolls e o Grão-Orc todos fazendo uma aparição. É uma estrutra muito
parecida com A Sociedade do Anel.
Ato dois trará nosso bando de heróis através da Floresta das
Trevas infestada de aranhas, leva-los ao conflito com os Elfos da Floresta, e
finalmente leva-los à montanha, Valle e ao confronto com Smaug. Esse também,
lembra (embora menos) a estrutura de As
duas Torres com seu conflito entre os heróis e um vilão secundário
(Saruman).
Finalmente, o Ato três será a batalha dos cinco exércitos ,
com, presume-se, Azog (não seu filho Bolg dos livros), como o antagonista
principal mais uma vez e então o epílogo no qual, espera-se, contra toda a
razão, não será tão triste como o epílogo do último filme (O retorno do Rei).
Ambos os Atos dois e três serão intercalados com material
adicional relacionado ao necromante e a investigação de Gandalf do seu
esconderijo fortaleza e talvez algumas dicas da traição de Saruman. Em outras
palavras, há muito conteúdo a explorar somado ao arco narrativo principal
colocado no livro.
Eu gostei d’O Hobbit:
uma jornada inesperada mais do que eu achei que gostaria. Talvez as minhas
expectativas estivessem baixas, mas eu acho que não. Eu acho que Jackson levou
a tradição e as histórias mais a sério dessa vez, e enquanto algumas mudanças
simplesmente fizeram o filme mais dramático, muitas delas o fizeram mais rico.
A liberdade artística usada aqui realmente funciona, e eu estou agradavelmente
surpreendido.
Ser um nerd da Tera-média não era tão divertido faz tempo.
Resenha original: http://www.forbes.com/sites/erikkain/2012/12/14/the-hobbit-an-unexpected-journey-review-the-best-middle-earth-movie-since-fellowship-of-the-ring/